Hoje sinto-me... Denim!

Hoje senti saudades… Saudades do tempo em que os meus filhos eram pequeninos, dependentes, inocentes, e eu lhes bastava para suprir todas as suas necessidades…
Reparei nas fotografias que exibiam os nossos sorrisos… Analisei-as com atenção para saber se eram fingidos… Os meus não eram… Eu sorria de pura felicidade! O mundo parecia-me belo e eu tinha tudo o que poderia desejar… Estávamos juntos, isso bastava… Isso bastava-me!
Tínhamos tudo! Um passado, um presente, um vislumbre de futuro, uma família linda! Sim, era linda a nossa família!
Mas tu não reparavas… Tu não olhavas para nós… Tu nem sequer nos vias, pelo menos não com os olhos do amor, esses que refletem o nosso estado de alma… A tua visão era distorcida por um qualquer sentimento estranho que nos culpava pela tua infelicidade… Pelo teu desconforto… Pelo teu desalento… Exibias um cansaço invulgar para quem, como tu, não se envolvia em nenhuma das tarefas domésticas ou parentais…
Mais do que cansaço, manifestavas um profundo desinteresse por nós… Uma total indisponibilidade para cuidar, tratar, acarinhar, envolver ou proteger-nos… Culpavas-me pelos teus problemas, mas eu não te podia ajudar… É que eu cuidava das crianças, alguém teria de o fazer… Alguém que não tu…
Um dia quiseste partir para bem longe, como fazias questão de dizer… E as crianças choraram… Não sabiam o que escutavam, desconheciam o vocabulário, mas entendiam a intenção… Eles entendem muito mais do que a razão alcança…
Eu chorei, também por mim, mas sobretudo por eles, pela sua candidez, pela sua ignorância acerca da gravidade do que estava a passar-se diante dos seus olhos genuínos e inocentes… Tu estavas a sair da família, devagar porém inexoravelmente…
E depois veio o caos… A loucura dos dias tensos e violentos, das palavras maldosas e perversas, da intencionalidade de magoar, de fazer danos, destruir… Dos insultos malévolos, das descrições bizarras dos teus torpes sentimentos escusos… A célebre política de terra queimada entrou-me pela casa dentro sem que eu pudesse impedi-lo…
O mundo sorria-te através de um novo amor, por quem te sentias deslumbrado, como fazias questão de me contar… Tinhas necessidade de me descrever o quão feliz te sentias na tua nova vida…
Fazias-me sentir pequena, diminuída e inútil, afinal eu não passava da pobre esposa deposta, rejeitada, humilhada e substituída por outra “em muito melhor estado de conservação”… Sentias-te vitorioso como Henrique VIII depois da sua Ana Bolena…
Não sei se um dia experimentarás a dor que o teu comportamento infligiu a todos os que te rodeavam… Talvez nunca venhas a saber… Às vezes pergunto-me se te sentirás hoje menos só do que te sentias antes… Não que isso me preocupe, mas tenho alguma curiosidade em perguntar-te se “ganhaste alguma coisa com a troca”…
Pura curiosidade feminina, sabes, eu tenho destas coisas… Bizarrias esquisitas, como estranha sou eu… E depois sorrio, confiante… Eu sim, ganhei e muito: aprendi a minha lição de vida e hoje coloco-me a mim mesma no topo das minhas prioridades! Eu sou a pessoa mais importante da minha vida! Mais experiente, mais madura, mais dorida, sou hoje uma mãe ainda melhor do que já fui! Mas sou também incomensuravelmente mais feliz e, sobretudo, muito mais mulher! E tu? Poderás dizer o mesmo? Não me parece…

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