Hoje sinto-me... Azul Escuro!

Estava triste e deprimida, por isso chorava… Soube que não me iriam renovar o contrato… De repente vi-me em casa, desempregada, desocupada, com dois filhos pequenos, de 3 e 2 anos, a pedirem-me ansiosamente um futuro que eu não sabia se poderia dar-lhes…
Eles precisavam de um pouco de esperança… Eu precisava de um pouco de apoio, moral, mental e, até, de um pouco de fé… Mas também de uma mão que me fosse estendida e me facilitasse um pouco a vida…
E também de um pouco (muito!) de autoestima, que isto de nos vermos sem emprego não é coisa fácil de encarar… De repente parece que nos tornamos num objeto defeituoso, sem préstimo, porque muito do que somos tem exatamente a ver com o que fazemos profissionalmente… “Diz-me o que fazes e dir-te-ei quem és!”, é um dos lemas da nossa sociedade…
Sim, a mesma sociedade que nos avalia se escolhemos uma carreira ou a família (meus amigos, é impossível ter as duas coisas! E quem diz o contrário, ou tem meios para que estranhos lhe tratem dos filhos, ou mente com quanto dentes tem!).
Escusado será dizer que somos avaliadas pela sociedade “madrasta” para garantir que somos:
- Boas esposas,
 Profissionais irrepreensíveis,
- Amantes fogosas,
 Excelentes mães,
- Ótimas educadoras (ser mãe não quer dizer que se seja boa educadora, ok? Só para que conste…),
 Magníficas donas de casa,
- Admiráveis cozinheiras,
- Maravilhosas companheiras,
- Estupendas amigas e…
- Sempre absolutamente sensuais e disponíveis para as atividades dinâmicas do folgado marido ou companheiro, amante de aventuras e folguedos…
E não, eu não podia mesmo dar-me ao luxo de ficar desempregada… Como se fosse um luxo… Por isso chorava!
Tentava, isso sim, nunca o fazer na frente dos meus bebés… Afinal eles não tinham culpa dos meus problemas…
Até que um dia… Bem, digamos que passei um jantar praticamente todo a chorar baba e ranho, cheia de pena de mim mesma (dá-me para aí uma vez por ano...). 
E o Alexandre (o que tem dois anos) olhou para mim com muita atenção, com uma espécie de olhar de falcão, com o sobrolho todo franzido, e nunca disse nada.
No outro dia de manhã (às 7:00) entrou pela cozinha dentro e bombardeou-me com perguntas:
-     "Mamã, tu foste trabalhar para ganhar dinheirinho?"
-     "Sim, filho."
-     "E hoje vais trabalhar?"
-     "Sim, filho."
-     "E vais ganhar dinheirinho?"
-     "Sim, filho."
-     "E vais chorar hoje à noite?"
-     "Não, filho, não vou."
-     "Ah, está bem."
E foi-se embora à vida dele!

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Hoje sinto-me... Amarela!

Hoje sinto-me... Azul!

Hoje sinto-me... Castanha!