Hoje sinto-me... Coral!

Parece que a origem de todos os males do mundo provém dos apegos… “Apego” pode ler-se como vício, dependência. O que, claro, como qualquer dependência excessiva, é considerado como maligno e doentio.
Os apegos são causadores de grande sofrimento, gerando os piores e mais negros sentimentos que há em nós: inveja, ciúme, ira… Emoções passionais e animalescas, com muito pouco de racional, causadoras de grande dor e infelicidade.
O apego começa por um desejo singelo: de posse, de estar perto, de controlo, de poder, de estatuto, de prazer… E rapidamente se transforma numa ânsia: “tenho de ter” ocupa toda a nossa mente, tornando-se uma compulsão… Sim, os apegos não passam de compulsões! Na verdade, todos somos adictos de qualquer coisa/objeto ou pessoa…
Pretendemos a exclusividade num mundo em que não passamos de “mais um/a”, tão descartável como o mais humilde dos objetos que consumimos… Mas a nossa necessidade de nos sentirmos especiais é tão incomensuravelmente gigante que nos perdemos em detalhes…
Pretendemos destacar-nos do comum dos mortais em pequenas coisas, mesquinhas e miúdas, mas que nos enchem de orgulho, de status ou de satisfação por podermos exibir algo que “nos faz sentir” um pouco mais do que os demais…
Comparamo-nos com o resto do mundo em coisas insignificantes! Trabalhamos na melhor empresa! Temos um salário maior do que A ou B! O nosso carro/casa/barco/telemóvel é melhor do que o do vizinho do lado! Os nossos filhos são mais bonitos/inteligentes/educados/altos/magros do que os filhos dos nossos amigos!
Temos a mania de controlar tudo e todos, como se isso fosse possível… E quanto mais controlamos, menos controlo vamos tendo sobre os nossos sentimentos mais nobres e a nossa própria felicidade!
Porque fazemos com que a nossa felicidade dependa de fatores externos, como a aprovação dos outros, ou a admiração alheia, ou o respeito ou, até, a inveja, que podemos ou não suscitar, acabamos por perder a nossa autoestima por veredas escondidas, e facilmente entramos em desespero… Ficamos frustrados… Deprimidos… Angustiados… Desencorajados…Caímos em depressão…
Sem nos darmos conta, ficamos agrilhoados a comportamentos compulsivos que, no entanto, desculpamos ou desvalorizamos continuamente porque vivemos em permanente negação:
- “Compulsivo, eu? Não, claro que não!Hei, vais sair com quem? E porquê?”…
- “Hoje tenho de comer um bolo de chocolate!”…
- “Adoro aqueles sapatos! Vou ter de os comprar!”…
- “Quero o último modelo de iPad!”…
Não nos damos conta do verdadeiro valor que há na amizade sincera, no companheirismo saudável, na generosidade, na gentileza, na partilha de uma gargalhada… Um lanche entre amigos… Um passeio à beira mar… O sorriso das crianças… O arco-íris após uma chuvada… O pôr-do-sol… O facto de termos emprego… Saúde… Família…
E por aí adiante! Não valorizamos nada do que temos: ficamos sôfregos... Sedentos... Sequiosos... Vivemos numa era em que, insaciavelmente, queremos mais… Mais… E mais! E é por tanto querermos, por tanto ansiarmos, por tanto almejarmos, que achamos sempre que o que temos é pouco… Além do mais, somos ingratos! Compulsivamente ingratos! Precisamos de reaprender a arte do desapego, da simplicidade de uma vida despojada, do regresso às origens… E então sim, seremos felizes!

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