Hoje sinto-me... Roxa!

Gosto de observar as pessoas em diversos ambientes… Fico a olhar para elas, tentando projetar-me nas suas vidas, nas suas peles, imaginando como vivem, o que fazem, onde trabalham, como serão as suas famílias…
Faço isso desde pequena. Recordo-me de pensar às vezes se eu seria mesmo “eu”, ou outra personagem qualquer, e porquê eu… E depois via passar alguém ao meu lado e logo decidia encarnar naquela personagem. Era uma espécie de jogo que eu fazia, e que se mantém até hoje. Pode parecer estranho, mas às vezes não me apetecia ser eu mesma, aquela criatura tímida, pequenina e tão insegura, cheia de medos, sempre em mudanças, sempre sem chão, sempre a tentar agarrar-se a algo que logo fugia… Tudo se parecia com a areia da praia, que eu a custo tentava agarrar e se me escapava por entre os dedos…
Observar os outros e colocar-me nas suas vidas permitia-me refugiar com algum conforto numa vida que não era a minha…
Não que a minha vida fosse má, triste ou traumatizante… Nada disso! Mas apetecia-me evadir dali, fosse de onde fosse, e viver experiências num outro corpo… Esta fase foi bastante mais intensa entre os meus 6 e os 8 anos.
Foi assim que eu encarnei na Lara, a menina dos caracóis que tinha perdido a mãe, e eu imaginava como seria triste viver sem mãe, e sofria imensamente por ela… Sem reparar que ela parecia feliz com aquilo que tinha, enquanto eu me sentia infeliz por ela…
Também encarnei na Vera, que tinha um irmão mais velho, o João, e a quem eu, secretamente, invejava… Todos os dias pensava como viveria a Vera, tão feliz com o seu irmão João, podendo brincar com ele todos os dias… Enquanto eu os observava, e com quem até às vezes brincava também… Imaginando como seria bom ter um irmão mais velho, um amigo como o João…
Mais tarde encarnei na minha amiga Miana, que era filha única e me parecia ter a vida perfeita… Com a Miana aprendi muito sobre liberdade, perdi alguns medos (como o de cair da bicicleta, por exemplo) e tornei-me mais independente.
Não que eu goste de fingir… Nem sequer é isso… Acho que gosto de experimentar coisas novas, diferentes, mais ou menos seguras e controladas… Ah, claro, nada pode fugir do meu controlo nunca…
Mais tarde fui viajante, turista, nativa, estrangeira, amante, esposa, vítima, perseguidora… Mais a sério fui mãe… E agora tornei-me adolescente… Encarno o papel que for preciso, e é por isso que escrevo… Será?

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