Hoje sinto-me... Rosa!

Faço as coisas com a melhor das boas vontades, mas depois… A verdade é que a intenção é sempre boa: quero melhor, quero mais, quero o que acho que me falta, ou me fará sentir melhor, menos desenquadrada, mais encaixada no padrão da normalidade.
Mas depois… Vem o frio na barriga, as cócegas, as insónias, os medos… Se acho que é fácil atirar-me de cabeça a uma oportunidade, não vá ela escapar-se-me, por outro lado, e uma vez dado o primeiro passo, fico a remoer a consciência: “será que foi o melhor que poderia ter feito? Será que vai ser o melhor para mim/minha família/meus filhos/…? Será que vai dar certo? Será que…?”
E assim fui vivendo, sucessivamente atirando-me para a frente do comboio em andamento, aparentemente sem medo de arriscar, enquanto por dentro me consumia o pavor de falhar, de que algo corresse mal, de que o comboio parasse, ou não parasse, de que eu não o conseguisse apanhar, de que algo ficasse pelo caminho, de que algo desaparecesse para sempre da minha vida no caso de eu não conseguir agarrar aquele comboio… Foi assim com a escola – chegava tarde (quando mudava de país ou cidade), quando a matéria já ia avançada – e tinha literalmente de absorver tudo no mais curto espaço de tempo possível – ou seja, apanhar o comboio em andamento!
Foi sempre assim… Às vezes penso que preciso de me recolher e finalmente gozar de tempo para mim, para descansar, para sonhar, para relaxar, para meditar… E depois penso que estou sempre preocupada, que há sempre algo em falta, que há algo em que falhei e que precisa urgentemente de conserto… Ainda que não me apeteça, ainda que não queira, mas que vou trazendo para o pensamento a toda a hora…
E depois, esta insatisfação, este descontentamento profundo com tudo, quando antes me deixava deslumbrar com tão pouco… “Será isto envelhecer?”, pergunto-me com ansiedade. Porque parece que nada é suficientemente atrativo para me captar e (sobretudo!) reter a atenção…
Sofro de um desencanto que atordoa, que entristece, que amolece, que me suga a energia que ainda me resta… E, no entanto, ainda me reservo uma pequena capacidade para sonhar, para desejar coisas melhores, um futuro melhor… Mas já nem a esperança me sobra, já nem dela me posso socorrer… Sou uma espécie de morta-viva, sem coragem para morrer de verdade e sem força para viver… Sinto que me arrastam numa espécie de pântano de águas paradas e malcheirosas, quero contrariar esta tendência, mas na verdade nem sequer luto por isso…
Não sei o que quero realmente! Talvez seja demasiado exigente… Talvez tenha sido esse o meu problema… Uma profunda insatisfação com tudo, um cansaço que me tornou indolente à força de tanto remar contra a maré… Porque a verdade é que quanto mais me debato, mais me enterro no lodo do pântano em que estou enfiada até ao pescoço… Não sei se terei saída… Não sei se uma corda servirá para me retirar, ou se apenas me enrodilharei na corda, colocando-a à volta do pescoço… Não sei… Mas seja como for, o que sinto é puro pavor! Do que virá por diante! Seja lá o que for…

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Hoje sinto-me... Amarela!

Hoje sinto-me... Azul!

Hoje sinto-me... Castanha!