Hoje sinto-me... Negra!

Os hospitais são desagradáveis! Recordam-nos a nossa condição de mortais, que tanto gostaríamos de esquecer…
Sei que tenho a tendência para evitar todo o tipo de hospitais. Por pura cobardia!
Detesto o cheiro, o típico cheiro a assepsia que domina um hospital. Detesto a brancura, tanta brancura que associo (vá-se lá saber porquê!) à morte!
Tenho tido poucos familiares internados em hospitais, felizmente! Eu própria só raras vezes lá estive, duas das quais para dar à luz os meus filhos! Esses são os acontecimentos felizes!
Da terceira vez nem vale a pena falar… Foi um acontecimento infeliz, muito infeliz, e que resultou numa lavagem ao estômago… Dessa vez guardo poucas recordações, digamos que vivi uma espécie de sonho mau, muito mau…
Não gosto de fazer visitas aos hospitais! Tento esquivar-me o mais que posso, e para isso rodeio-me de uma série de desculpas mais ou menos plausíveis para terceiros, mas que eu, sei-o bem, reconheço intimamente não passarem de desculpas… Indesculpáveis!
Dito isto, tenho um longo rol de visitas “falhadas” a hospitais, nomeadamente ao meu sobrinho Leonardo, que esteve internado aos 4 meses e aos 5 anos; à minha irmã, que esteve internada por diversas vezes, demasiadas vezes, e que sabe bem o que custa a solidão e abandono que se sente num hospital, sobretudo quando nos sentimos tratados quase ao mesmo nível de gado para abate… Mal comparando, claro!
Desta vez falhei a visita à minha mãe! Apesar de estar munida das melhores intenções, e de ter feito imensos planos para a visitar e acompanhar no pós-operatório, sempre doloroso, e no início da sua recuperação.
Poderia dizer que tive motivos que me impediram de visitá-la! Mas não seria verdade! E decidi não me enganar a mim mesma, admitindo a minha falha, não para com a minha mãe, que é parecida comigo e se defende dizendo-nos para não irmos, que prefere ficar sozinha, que fica com dores de cabeça com tanta visita e por ter de “fazer sala” com tanta gente…
Não! Eu falhei para com o meu pai, que ficou sozinho, que esperava o apoio das filhas, da família mais próxima, e teve-o, de facto, mas apenas de uma filha… Porque eu falhei-lhe e não estive lá! Não estive com ele! Não lhe dei apoio no momento em que mais precisava.
Não quero sentir a vulnerabilidade da proximidade da morte… Não quero conviver de perto com a dor e o sofrimento. Não quero aproximar-me da fragilidade humana, tão evidente e exposta numa simples visita de hospital… Porque sou cobarde, tento passar ao lado… E no entanto, não esqueço! E a seguir torturo-me! Por ter falhado! E por isso peço desculpa… Afinal sou só humana!

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