Hoje sinto-me Rosa!

Convocaram-me para a reunião. Confirmei a minha presença. Não sabia ao que ia, mas sabia que iria estar entre amigas, isso bastava.
No dia marcado, à hora marcada, compareci. Ao mesmo tempo chegou a Fernanda, uma respeitável senhora que terá à volta dos seus 60 anos... O que não interessa, afinal a idade é um daqueles números que praticamente não serve para nada, nem acrescenta nada à nossa felicidade, assim mais ou menos como o nosso peso...
Mas adiante!
A reunião era na casa da Sónia, que nos recebeu com a sua boa disposição habitual. Pouco depois chegou a Carla, uma brasileira animada que declarou de imediato que, caso lhe tentassem impingir Tupperware ou a Bimby, ela iria embora... Eu fiquei atenta, mas não percebi. Afinal tratava-se de uma reunião "secreta", com objectivos reservados...
Afirmei energicamente que só estava ali porque me tinham prometido uma tarde de sexo selvagem e descontrolado... Muito longe de saber o que iríamos tratar...
As outras olharam-me com desconfiança, mas também já não esperam grande coisa de mim... Ufa, ainda bem...
Começaram então a chegar as outras meninas, a Dulce com a Marquesa, uma venerável senhora de 83 anos, a Verinha, a Lena, a Catarina, a Adelaide... O grupo foi crescendo... E eu a milhas do assunto que ali nos trazia, continuava a dizer convictamente que estava ali para uma tarde de sexo selvagem... E ninguém me contradizia, ninguém me desmentia, mas também ninguém desvendava o mistério...
A Dulce até levou um bolo interessante, em que vários "corpos" cobertos por uma manta apareciam aos bocados por todo o lado... Vários pés aqui, vários braços ali, enfim, a lembrar uma espécie de bacanal descontrolado... E selvagem... Fiquei ainda mais intrigada!
E pouco depois chegou a Inês, arrastando consigo uma maleta vermelha...
Pouco depois, a Sónia pediu espaço. Dado que a mesa já estava ocupada com os comes e bebes, eu sugeri que o espaço fosse no chão... Ao que logo todas aderiram; a Inês colocou uma grande colcha de leopardo (sexy! Talvez para soltar o animal que havia em nós!) e começou a colocar alguns produtos sobre a mesma.
Eu, na minha inocência, ainda pensei que seria uma amostra de cremes de beleza (e quem não precisa de um cremesito para realçar o que há de melhor em nós?).
Mas de repente, não mais que de repente, fez-se-me luz no espírito adormecido: "claro! A maleta vermelha!". E gritei: "a senhora da maleta vermelha". A Inês sorriu e respondeu "é isso mesmo!".
E a aventura começou!
A Inês demonstrou ser uma excelente profissional, uma sexóloga diplomada, mulher de ciência a demonstrar que estas coisas do sexo têm muito que se lhe diga...
Começámos por conhecer os óleos de massagem, com agradáveis e afrodisíacos aromas, suaves texturas que se podem espalhar docemente pela pele, se podem provar, tocar, lamber, comer, saborear, sei lá eu, o que a imaginação nos ditar... E ainda servem para uma suave e agradável massagem, relaxante dos músculos cansados ou doridos, ou talvez não...
Escusado será dizer que a imaginação disparou, e me dediquei a pensar activamente porque raio não teria eu ninguém a quem massajar...
E então a Inês apresentou-nos a vela, acendeu a vela, fez-nos cheirar o aroma da vela a derreter, colocou-nos o óleo da vela derretida sobre as mãos para que pudéssemos sentir-lhe o cheiro... Disse-nos que o provássemos... Hummmm... E eu sem ninguém sobre quem derramar o óleo quente da vela... Bolas, lá estou eu a delirar...
Em seguida vieram os pós mágicos, uma espécie de talco envolvente e perfumado, de toque macio e sedoso, também lambível, também comestível (para que raio quereríamos nós comer aquilo????), também saboreável... Hummmm... E eu a tentar imaginar alguém a quem colocar os pós... Ok, mudar o chip...
Depois vieram as plumas, lindas, de toque sedoso, instrumentos de suave tortura sobre os pobres dos homens, vítimas incautas de tantas mulheres sádicas... Claro que experimentámos as plumas, deliciosas... Sobretudo se acompanhadas de uma mascarilha de gata assanhada, que também as havia (claro!) para todos os gostos... E a minha imaginação navegou para longe... E depois de volta à realidade (ohhhh!).
Em seguida as algemas, de vários gostos e feitios, umas mais pequenas, outras maiores, mas todas giras...
Depois os glosses para sexo oral (ok, todas experimentámos os vários glosses, os vários sabores, mas não para o objectivo real)... Parece que aquilo faz um efeito imediato quer no beijo em si (e quem não gosta de um beijo electrizante?), quer no... Resto...
Bom, eu comprei logo um... Afinal tenho direito às minhas 7000 palavras dia, e oral é oral, ou seja, se me ajuda a falar, estamos nessa... Não tenciono abdicar dos meus direitos, é assim mais ou menos como ter de dar diariamente os 10000 passos... 10000 passos, 7000 palavras, mais do que um direito, é uma obrigação manter todos os órgãos a funcionar... Ok, quase todos os órgãos a funcionar...
Depois explicaram-me que sexo oral não quer dizer exactamente falar... Detalhes... Como o peso e a idade, coisas sem sem interesse, números absurdos...
Continuando, avançámos para os perfumes de feromonas... Claro, para comer, lamber, saborear, entusiasmar, etc. Claro que também comprei logo um, a Inês até me disse que tivesse muito cuidado na rua, porque poderia atrair cães vadios... Pelos seus efeitos poderosos, claro... Ao que parece, as feromonas atraem várias coisas...
Bem, resolvi logo experimentar o meu novo perfume numa reunião de trabalho. Pensei que mal não iria fazer, e até podia ser que o chefe se tornasse mais amigável... Triste desilusão! Além de ficar entre duas mulheres, o perfume não atraíu cão nem gato, vadios ou caseiros...
Mas adiante... Continuamos na reunião da maleta vermelha...
Depois veio a lingerie (confesso, não aprecio aquele "tipo" de lingerie!)... Passei rapidamente adiante...
A seguir os aceleradores/intensificadores de orgasmo, que todas fomos à casa de banho experimentar, e ao que sei ninguém, absolutamente ninguém conseguiu nada a não ser um forte ardor... Talvez seja esse o efeito pretendido, não sei...
Depois vieram os aparelhos... Artefactos, brinquedos, sei lá, o que quiserem chamar àquilo... De todas as formas e cores, desde os modelos "Chanel", com brilhantes, até aos mais declarados e rudes, tão rudes que alguns até se poderiam colar na parede com ventosa... Para servir de cabide, claro...
Também havia modelos eléctricos com várias velocidades, modelos "pulsadores", modelos manuais, sei lá eu... À escolha!
Por entre grandes risadas, lá íamos admirando tudo...
Só vos posso dizer que foi uma tarde muito bem passada, e divertida. Saí de lá com o meu gloss e fui jantar a casa de uma amiga, a quem emprestei o gloss. Ficámos a conversar a noite toda, acho até que ultrapassámos largamente as nossas 7000 palavras diárias, pelo que vos posso dizer que o gloss funciona mesmo... Pelo menos para falar, que foi o único fim a que o destinei...