Hoje sinto-me Laranja!

É sexta-feira! Despedi-me dos meus bebés com o coração apertadinho, como sempre enfrento as despedidas. É dolorosa a separação, sei que o é para mim e também acredito que seja para eles.
Os psicólogos, psiquiatras, técnicos ligados à pediatria, pedagogia e quase tudo o mais terminado em "ia" dizem que "é preferível para as crianças terem pais separados em vez de serem confrontados com discussões e batalhas conjugais". Estou de acordo em que, de facto, não é saudável armar uma batalha conjugal diária na frente das crianças, e isso parece-me óbvio. Afinal que imagem se pretende passar do que deve ser (ou é) uma relação a dois?
As crianças precisam, acima de tudo, de segurança. Precisam de saber que o ambiente em que vivem é seguro, pode ser dado como "certo", sobretudo numa era em que nada é certo, nada é eterno, nada é seguro, pelo menos não da forma em que sabemos que "isto é meu", "isto está aqui, haja o que houver".
E, claro, precisam de saber que são amadas, acima de tudo e de todas as coisas, materiais e/ou intangíveis.
Mas às vezes pergunto-me que valores estaremos nós a transmitir às nossas crianças, quando as submetemos a relações fortuitas, passageiras, com parceiros a que chamamos inconsequentemente "amigos", os quais, por sua vez, também têm crianças de anteriores relações... Todas estas crianças que hoje convivem com o facilitismo do "troca-de-parceiro-quando-dá-jeito" que os progenitores lhes apresentam vão crescer com a ideia de que o normal é "isso": ou seja, é normal andar a saltar de cama em cama, de casa em casa, de relações de afectividade (que forçosamente se vão construindo) em relações de afectividade, até não restar qualquer sombra de afectividade para oferecer a quem quer que seja... Porque, afinal de contas, o que lhes estamos a apresentar como modelo é uma vida em que nada é seguro, nada é para sempre, nada é certo, tudo é efémero e, quiçá, virtual e vazio de conteúdo. Mostramos-lhes que a vida é não ter um refúgio, um cantinho só deles, e que, pelo contrário, deverão estar expostos à intempérie de um deserto afectivo em que qualquer ligação só dura o tempo que durar... Estamos a construir um mundo sem raízes, sem princípios, sem valores, em que a única coisa importante para mostrar às gerações futuras é o "vale-tudo" do princípio do prazer, vulgo hedonismo para os mais puristas. E ao crescer assim, desamparadas, as crianças crêem que o que vêem é o "padrão-normal", ou seja, é "normal" terem irmãos de vários pais e várias mães, ao ponto de se ouvirem crianças inocentes perguntar: "ena, tens 5 irmãos? De quantos pais e quantas mães?".
E é isto, este padrão de referências, que nos é apresentado em filmes, em novelas, até em teatros... É isto que está a ser replicado e multiplicado pelas várias famílias... Será apenas isto que teremos para oferecer às nossas crianças? É mesmo isto que queremos para eles? Que sejam "crianças modernas", os futuros adultos que só terão para mostrar aos respectivos filhos aquilo que lhes foi mostrado a si mesmos? Filhos? Quantos pais e quantas mães? Há que ser moderno...

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