Hoje sinto-me... Azul Céu!



Faz amanhã 35 anos que regressei de Moçambique… E lembro-me sempre! Poderia já ter esquecido, poderia ter arrumado esse tema definitivamente num canto escondido do meu cérebro, mas nada disso me impede de recordar!
Na verdade não passava de uma recém-debutante na adolescência quando regressei a Portugal, mas talvez por isso mesmo… Foi uma dor, ou um conjunto de várias dores, que me marcou profundamente…
Separei-me do meu pai, que ainda lá ficou 7 meses até ao termo do contrato…
Separei-me do primeiro namorado, algo muito importante quando se é uma jovem menina romântica e apaixonada de 13 anos…
Separei-me dos meus amigos, aqueles que faziam parte integrante do meu mundo, pelo menos do meu pequeno mundo tal como o conhecia…
Separei-me do meu gato, a minha companhia de noite e dia, o meu pequeno Skippy, branquinho e de olhos azuis, meiguinho como poucos…
Despedi-me para sempre da minha casa, o que nunca é fácil, e menos ainda quando se parte para o desconhecido, esse obscuro e estranho caminho sem retorno possível…
Disse um longo e sentido adeus à minha praia favorita, ao insubstituível pôr-do-sol africano, ao maravilhoso nascer do astro-rei, a que tantas vezes assisti…
Deixei para trás uma vida descontraída e feliz, cheia de cor e calor, uma vida sem stresse, onde havia tempo para tudo e tempo para todos…
Cheguei a Portugal no dia 30 de novembro… No avião, a minha mãe forçou-me a vestir a camisola que eu não queria… E, quando saí do avião, percebi de imediato o que a hospedeira tinha querido dizer com “estão 7 o C no aeroporto da Portela”… Fui atingida por uma onda de frio que me gelou de imediato o nariz! O que seria aquilo??????
Apesar de tudo, reservei um laivo de esperança para me preparar para o que viria a seguir… Conhecer tudo sobre este novo país que me acolhia de regresso a casa… “Vai correr tudo bem”, pensava eu desesperadamente perdida…
Demorou um pouco… Os primeiros dias foram passados em casa, uma casa que não era minha, em que tudo me parecia diferente, estranho e frio… Muito frio! E chuvoso, já agora…
Lembro-me de ter chorado pelo menos tanto como choravam os dias que me receberam… Queria a “minha vida” de volta… A minha felicidade de volta! A minha casa de volta!
Nunca mais voltei! Fiquei por cá! Cresci por cá! Mas agora, Moçambique, se eu pudesse… Já voltava!

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