Hoje sinto-me Verde!

Surpreende-me sempre a capacidade de partilhar a dor que algumas pessoas demonstram. É a isso que se chama empatia, porque empatizar com a alegria é sempre mais fácil do que empatizar com a dor.
A empatia é a capacidade de nos identificarmos com os sentimentos dos outros, de nos alegrarmos e nos entristecermos com eles, vivenciando as suas emoções como se fossem as nossas próprias…
Há muitos anos atrás, recém-chegada de Moçambique, onde tinha deixado o meu pai e o meu coração, dei por mim fechada num quarto, vendo à janela o dia cinzento, escuro, frio e chuvoso que me tinha recebido em Portugal…
Chorei, como o tempo também chorava, cheia de pena de mim, cheia de medos, cheia de saudades, cheia de dor por um tempo maravilhoso que jamais voltaria para trás. Porque o tempo, quer queiramos quer não, nunca volta para trás…
E foi então que a minha tia Justiniana, que eu não conhecia, que não me conhecia, que não passava de minha tia por afinidade, entrou no quarto onde eu chorava sozinha… Olhando para mim, rapidamente percebeu o que se passaria na minha cabeça e veio abraçar-me.
E ali ficou, abraçada a mim, com muita força. E eu apercebi-me de que ela chorava tanto ou mais do que eu quando comecei a sentir as suas lágrimas a caírem sobre mim.
Lembro-me de ter pensado que era muito estranho alguém que eu não conhecia, que não me conhecia, ter a capacidade de entender a dor de alguém ao ponto de sofrer com esse alguém. Foi com estranheza e desconfiança que eu entrei nesse mundo da partilha de sentimentos com alguém. Mas foi um momento que me marcou e que jamais esqueci.
Muitos anos mais tarde, com outro tipo de dor que desesperadamente quis partilhar, de que desesperadamente me queria livrar, ouvi coisas tão frias e distantes como:
• “Já sabes que não és a primeira, nem serás a última, a passar por um divórcio”;
• “Livra-te disso já”;
• “Não precisas de um homem que não vale nada para seres feliz”;
• “Tudo isso por causa de um homem?”…
E, senhores, acontece que “aquilo tudo” não era por “causa de um homem”, era por minha causa… Eu estava triste, sentia-me infeliz e queria tão-somente um abraço amigo, quente e sincero! Queria poder mergulhar a minha cabeça num ombro largo e acolhedor, que simplesmente estivesse ali, ao meu lado… Simples, não?
Valeram-me os meus queridos pais, que acredito tenham sofrido pelo menos tanto quanto eu… E a dor partilhada é mais fácil de suportar!
Um dia acordei e a dor já não doía, e percebi que é mais fácil termos amigos quando estamos felizes, a alegria atrai, a tristeza repele… Para nos protegermos, fugimos instintivamente da dor. É humano, é animal, é normal!
A minha querida tia Justiniana ficará para sempre no meu coração, esse coração que ambas partilhámos num raro momento, há muito, muito tempo…

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Hoje sinto-me... Azul!

Hoje sinto-me... Amarela!

Hoje sinto-me Vermelha!