Hoje sinto-me... Violeta!

Ele ficou ai, a olhar para mim... Toquei-lhe na mão, de alguma forma para o impedir de se aproximar. A proximidade fazia-me confusão... Não lhe reconhecia o cheiro, o sabor, a minha pele não reconhecia a sua... Era um estranho, um estranho que permanecia diante de mim e procurava aproximar-se...

  • Faz-me rir, por favor faz-me rir - supliquei, apavorada.
  • Rir? Queres que te faça rir? Agora?
Senti que estaria, possivelmente, a esticar demasiado a corda... A situação não seria certamente para rir... E, no entanto, eu precisava de uma piada, algo que me aliviasse da pressão do pânico que já estava instalado em mim...

  • Queres que me vá embora? - perguntou, com alguma lógica... Eu não devia inspirar grandes sentimentos de índole erótica, não com aquele comportamento...
  • Não - respondi, sentindo-me culpada e horrível. - Por favor, não! Quero que fiques... - e sim, queria... Acho eu...
  • Então, tens de me deixar aproximar! - declarou, avançando para me beijar...
  • Espera, espera... - eu parecia parva, parte de mim queria, a outra parte não queria os seus avanços... Como lidar com tais sentimentos? Não havia termo de comparação, afinal que estaria eu a tentar fazer? A reconhecer o adversário? Porque não havia nada para reconhecer... E tudo para conhecer...
Decidi deixar-me ir... Algo que raramente me permito, que sempre me nego... Mas também sou filha de   Deus, e o prazer de viver não pode sistematicamente ser-me vedado... Verdade?
O problema está precisamente aí... Em "deixar-me ir", "deixar-me levar", quando constantemente me recrimino por não estar no controlo total e absoluto de todas, todas as situações...
É verdade que exijo demasiado de mim mesma, mas há algum tempo que desisti de tentar ser perfeita... E que tal assumir que, não sendo perfeita, sendo humana, também tenho direito a alguns momentos de puro relaxamento e descontração, por outras palavras, puro prazer?
Sim, deixei-me ir... Permiti-me esse momento... Sorri! Reconheci alguns caminhos percorridos, gestos anteriormente repetidos e, mais importante, o despertar de sentidos que julgara para sempre adormecidos... Fechei os olhos, deixei a imaginação percorrer-me e assaltar-me, e sorri perante a ideia de, ao menos uma vez, vivenciar o momento...
E depois acordei!

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