Ainda amarela...


(carta à Autoridade Tributária)

Boa tarde,

Muito obrigada pela sua amável resposta.

Como sou uma pessoa bem disposta, por favor não me leve a mal os seguintes comentários (desculpe, mas não resisto a umas brincadeiras para não desanimar de vez - e assim talvez também lhe consiga pôr um sorriso no rosto):

- ..."no prazo de 15 dias a contar do termo do prazo para o pagamento voluntário" -  O pagamento nunca é voluntário - quando muito, será "voluntário à força". Mas, sejamos francos, eu até conseguiria arranjar outro destino para essa quantia (sem precisar de usar muita imaginação!) como, por exemplo, uma viagem de ida (sem volta!) para a Austrália;

- ..."conjuntamente com o pedido deverá oferecer garantia idónea" -  Convenhamos, isto é mesmo para desencorajar qualquer sombra de pedido, não é verdade? Quem tem tempo para tratar destas burocracias? Eu certamente que não...;

- ..."comprovação duma situação económica difícil" -  Ui, esta então é muito complicada... Uma fotografia serve???? É que, segundo me parece (e olhe que eu já deixei de ver telejornais há algum tempo, que a minha depressão não o permite!), é o país todo que está em situação económica difícil... Nas ruas que percorro, todos os dias fecha uma loja...

Sou divorciada, mãe de dois filhos menores, em trabalho precário há 6 anos (a caminho de 7!)... Depois de uma carreira fulgurante numa empresa americana, e depois de muito trabalhar no estrangeiro, por amor fixei-me em Portugal... E, eis senão quando, perdi tudo de uma assentada: emprego, carreira, marido, e aos quarentas tive de começar tudo de novo... Será isto difícil? 

Vou-lhe dizer o que é difícil: sair da cama todos os dias! E acordar para a realidade de um país que reinventou a burocracia para que os honestos comprovem que são mesmo "pobres", enquanto os desonestos se pavoneiam com total impunidade...

Obviamente a culpa não será sua... Li que o número de pedidos de pagamento fraccionado de IRS disparou... Esses serão os que querem pagar... Coitados, estarão como eu...

Na minha modesta opinião, um chefe de repartição de finanças deveria ter autonomia para autorizar o pagamento fraccionado do IRS... Trata-se de pagar... Imagine-se o que seria para receber...

Mas enfim, perdoe-me o desabafo, que afinal não passa disso mesmo. Devo estar a precisar de férias, este tem sido um ano difícil... Ah, esqueci-me de lhe dizer que agora, aos 47 (quase 48...) anos, estou a estudar à noite... Sou tão parva, ainda tenho ilusões de que uma estúpida pós-graduação me venha a servir para alguma coisa... E o mais engraçado é que aos 48 anos serei "estagiária", veja lá como o mundo se pôs... Depois, na posse das "novas qualificações", com um bocadinho de sorte, emigro! Talvez me concedam uma nova oportunidade!

Mais uma vez, as minhas desculpas. A minha neura não é consigo! Estou certa de que a senhora conhecerá bem o estado da nação. Mas por favor não desincentivem de pagar quem honestamente o quer fazer!

Com os melhores cumprimentos,

Maria José Alemão

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