Hoje sinto-me... Vermelha!


Já não me lembro muito bem como foi… Sei que nos conhecemos numa discoteca da moda, salvo erro no ‘Visage’, naquela época em que as minhas amigas e eu frequentávamos discotecas…
Produzíamo-nos o suficiente para ficarmos com bom aspeto, iluminávamo-nos com os nossos melhores sorrisos e lá íamos nós à aventura…
Partíamos em bandos, dispostas a divertirmo-nos sem pisar o risco… Éramos meninas ajuizadas e responsáveis, embora também um pouco doidas… Às vezes pergunto-me se não teremos corrido riscos a mais…
Mas penso que as pessoas acabavam por compreender o nosso estilo, os nossos comportamentos brincalhões e totalmente inocentes… E em grupo estávamos sempre protegidas… Bem, quase sempre…
Divertíamo-nos numa era em que ninguém tinha telemóvel (o telemóvel nem existia ainda!), só de vez em quando podíamos utilizar o carro do papá, e revezámo-nos a conduzir… Ou então, como frequentemente acontecia, andávamos a pé, longos e divertidos quilómetros a percorrer Lisboa à noite (mais exatamente Lisboa de madrugada), a rir e a conversar…
É certo que não tínhamos muito dinheiro, cingíamo-nos ao que nos era cedido por mesada ou afins… No meu caso particular, eu já usufruía de um (mini) salário, uma vez que trabalhava em part time num escritório de advogados. E como me rendia o meu minúsculo salário… Até parece mentira como eu o fazia durar…
Sim, os tempos não eram fáceis, trabalhar de manhã, estudar à noite, e distrair ao fim de semana.
Também não bebíamos bebidas alcoólicas, éramos assim uma espécie de “bando da coca-cola”, daí que também conseguíssemos controlar-nos bem… Quando muito, eu arriscava uma água tónica (sem gin, claro!) com uma rodela de limão… Uma ou outra de nós bebia água e dançávamos… Nós gostávamos era de dançar… Dançávamos a noite toda!
Quando algum rapaz decidia meter-se connosco, a nossa estratégia era escolher sempre alguém que “estivesse na festa de despedida de solteira”… E isso bastava para afugentar os mais arrojados! Afinal, nada como a ideia de um casamento para pôr um homem a fugir, certo? Muito nos ríamos nós, lindas raparigas em idade casadoira, mas tão pouco viradas para aí…
E como éramos giras, barulhentas e divertidas, ele aproximou-se decididamente quando já estávamos de saída… Tocou-me no ombro e disse:
-     “Olha, posso dar-te o meu número de telefone? Sabes, eu gostava de te conhecer melhor…” – E estendeu-me um cartão com um nome e número de telefone (obviamente, fixo!).
-     “Claro que sim” – respondi, com um dos meus melhores sorrisos, estendendo a mão para o cartão.
-     “Eu sei que tu não me vais telefonar” – arriscou ele – “mas eu gostava mesmo que tu me ligasses… A sério… Por favor liga-me…”.
Claro que prometi ligar, mantendo o meu implacável sorriso… E claro que deitei o cartão fora na primeira oportunidade e entre muitas gargalhadas com as minhas amigas. Afinal conhecer pessoas nas discotecas não fazia parte dos meus planos de vida… Eu só ia para dançar…

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