Hoje sinto-me Coral!

Sou uma pessoa bem constituída. Há quem me ache gorda... Mas não, não me vejo gorda, lamento... Ou, quando muito, e como diria o Obélix, "um pouco baixa de peito, é tudo".
A minha mãe diz que eu não sou, nem nunca serei, anoréctica. É que as anorécticas vêem-se sempre gordas e eu vejo-me sempre magra... É uma outra forma de colocar a questão, c'est tout.
É simples: sou robusta! É assim que eu me vejo. Adoro este adjectivo: sou robusta. Não sou forte, não sou gorda, não sou balofa, não sou baleia, sou muito simplesmente robusta. E sólida!
O que quer dizer que sou uma pessoa de confiança, o que já é dizer muito sobre uma pessoa, sobretudo nos dias que correm...
Bom, mas apesar de eu me sentir bem exactamente assim como sou, sólida e robusta, confesso que nem todas as roupas estão de acordo com o meu "formato" e até posso acrescentar que há algumas que chegam mesmo a revoltar-se e se recusam a assentar bem no meu sólido e robusto corpo... O que, convenhamos, nem sempre é agradável... Afinal toda a gente deseja que a roupa não se revolte e assente em perfeitas condições sobre o nosso robusto corpo...
Vai daí, e porque achei que alguns artefactos poderiam ser de alguma utilidade neste aspecto, e até porque de vez em quando tenho de comparecer a eventos relativamente importantes que exigem uma certa apresentação, digamos assim, mais apessoada, decidi-me a comprar uma roupa interior que me oferecesse alguma "compressão"... O que é, diga-se em abono da verdade, absolutamente contra a minha natureza, aliás eu sempre defendi que as leis da física são lógicas e naturais, se se aperta em cima a coisa explode em baixo, e desses ideais nunca abdiquei...
Mas enfim, atendendo a muitos pedidos (sim, a minha mãe quer-me sempre ver no meu melhor, apesar de eu lhe explicar vezes sem conta que "este" é o meu melhor...), lá me decidi e rendi às evidências: há mesmo coisas que só ficam bem em corpos, bem, um pouco menos robustos ou um pouco menos sólidos...
Vai daí, perdi a cabeça e comprei, a preço de ouro ou de platina, um leve conjunto "compressor" para melhor concentrar os aspectos robustos da minha curvilínea compleição. Por via das dúvidas, apostei num tamanho L/XL para garantir que, pelo menos, iria conseguir respirar... Função a que não damos a devida atenção, mas que é, afinal, crucial para a nossa sobrevivência...
E lá veio o dia em que resolvi experimentar uma espécie de traje decente para trabalhar "no meu melhor" (até porque eu trabalho sempre no meu melhor, era o que faltava!), isto é, com algumas curvas mais disfarçadas do que outras...
Nem vos digo nem vos conto... Escolhi a roupa adequada e imaginei-me/visualizei-me confortavelmente dentro dela, assumindo que por dentro estaria toda "aconchegada" na minha robustez...
Mas eis senão quando, ao enfiar o top (sim, comecei pela parte de cima, ok? Qual é o mal?), fiquei com o mesmo completamente enrolado algures entre o pescoço e um dos ombros... E imediatamente sem poder respirar... E cheia de calor...
Comecei a sentir-me desfalecer, lembrei-me vagamente dos antigos espartilhos que tanto faziam sofrer as damas antigas, tentei lutar, puxar uma alça, agarrar uma ponta, puxar uma ponta, qualquer coisa... Não consegui... Comecei a sentir sintomas de ataque de pânico, e só pensava: "eu vou morrer aqui sozinha, toda nua, a lutar com um top compressor"...
Parei de lutar!
Sentei-me na beira da cama, tentanto respirar (o pobre do cérebro, sem oxigénio, martelava-me com a pergunta: "porque me fizeste isto? Porquê?")... Tentei acalmar-me, mas logo pensei: "Meu Deus, tenho isto amarrado entre o pescoço e o peito, como é que poderia aguentar isto COMPLETAMENTE VESTIDO????".
Comecei a arfar, lentamente. Já quase conseguia controlar a respiração para prevenir o ataque de pânico. E então concentrei toda a minha energia nas mãos para conseguir, pelo menos, agarrar uma pequena parte da rodilha que tinha a comprimir-me o pescoço e os ombros... E consegui!
Com um pouco mais de concentração (obrigada, meditação, ajudaste imenso!) consegui puxar devagarinho uma pequena porção da rodilha compressora e, após uma breve sensação de esmagamento da parte superior do braço esquerdo, lá retirei o maldito top... Atirei com ele com desprezo para cima das cuecas subidas com efeito "adelgaçante da barriga" e "elevador dos glúteos" (afinal quem é que precisa dessa tralha toda? Uns para cima, outros para baixo, bahhhh...) e decidi que o meu ar robusto e sólido é de absoluta confiança! Para dar e vender!

Comentários

  1. Oh linda, que aventura, hihihi!
    Realmente, de certeza que não são mulheres robustas que se lembram de inventar esses "compressores".
    E não devem ter nunca experimentado um!
    Viva a nossa querida Zé robusta, linda, magnífica, gira, boa (helicóptera!), e sorridente.
    Quem é que iria querer uma zé comprimida e deprimida? E sem respirar!

    Beijinhos, grandes, lena

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