Hoje sinto-me... Amarela!
Este calor
inclemente… Como se diz por terras africanas, poderia estrelar-se um ovo numa
pedra exposta ao sol. Não sei se este será um indicador do aquecimento global,
mas que está um calor infernal, lá isso está. Mas também é tempo dele, ou não
será? Por que razão estaremos nós sempre tão insatisfeitos com o tempo que faz?
Se chove é porque chove, se faz frio é porque faz frio, se está calor também protestamos,
no fundo o tempo é sempre fonte de insatisfação… Seja ele qual for.
Ontem vi a Maria.
Passeava distraidamente pelas ruas do Chiado, óculos de sol negros a
esconder-lhe o olhar sombrio. Abraçámo-nos. Na verdade nunca sei o que dizer
nestas circunstâncias, por isso prefiro escutar. Em silêncio.
- Dizem que o tempo
cura tudo, não é verdade? – Perguntou-me ela, com a esperança a pairar-lhe na
voz. Sim, aquela maldita e tão desnecessária esperança que nos corrói a alma
até ao âmago da nossa essência, prendendo-nos a uma âncora que, impiedosamente,
nos alicia para o fundo, para as catacumbas do vazio…
Olhei-a, olhos nos
olhos. Deixei que lesse nos meus. Como dizer-lhe que o tempo, o tempo, essa
grande besta devoradora de sonhos, não cura nada, nunca poderá mitigar-nos a
dor, nenhum tipo de dor? Nunca poderá fazer-nos recuperar de uma enorme perda,
nem fazer-nos convalescer de um qualquer desgosto… O tempo, por si só, não faz
absolutamente nada a não ser colar-nos mágoas na alma e rugas no rosto… Teremos
de ser nós, esse esforço terá sempre de ser nosso, inteiramente nosso. A dor terá
de ser ultrapassada lentamente, pouco a pouco, passo a passo, tão lentamente
que cada novo nascer do sol poderá provocar-nos sofrimento… Afinal, como é
possível que a nossa vida se tenha desfeito e o resto do mundo permaneça
inalterável?
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