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Reflexões de 2ª feira…

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Hoje não me apetece pensar. Os pensamentos não estão a fluir no bom sentido, portanto é melhor não pensar. Como se fosse possível… Escorrega-me a memória para uma sábia frase que escutei no fim-de-semana: “Já não procuro, agora quero ser encontrada” . Adorei! Por vezes tenho a sensação de toda a vida ter corrido à procura de algo, em busca de qualquer coisa indefinida mas que, aparentemente, me fazia falta. Por isso fazia sentido procurá-la afincadamente. Mas… Seria realmente assim? A remar contra a maré o tempo todo, correndo uma espécie de maratona infinita rumo a não sei bem o quê, num frenesim doido e desenfreado para alcançar pseudossucessos imaginários, mas sempre, sempre em nome do sonho. Não é ele que comanda a vida? Certamente tem comandado a minha… Mas hoje não vou fazer nada. Não vou sonhar. Não vou correr em busca de nada. Não vou desesperar por “ainda não ter chegado” . Não vou pensar “no que poderia ter sido” . Nem no que "já foi" . Nem no que “gost

Estará a virtualizar o seu sucesso?

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  “O sucesso é um mau professor. Seduz pessoas espertas a pensarem que não podem perder.”  – Bill Gates Às vezes fico cansada de tanto pseudossucesso plasmado nas redes sociais. Estou a ser eufemística quando digo “às vezes”. É sempre. Estou realmente saturada de tanta bazófia. Pessoas com vidas deslumbrantes, gloriosas, que fazem fantásticas viagens, declarações a amores fabulosos, enfim, tudo exageradamente maravilhoso, numa espécie de fenómeno a que chamo “kardashianização” de vidas normais. Não vejo ninguém dizer que a vida não lhe está a correr bem – porque, admitamos, nem sempre a vida nos corre bem, certo? Ou a falar sobre as dúvidas que tem em relação ao seu futuro (amoroso, profissional, familiar, etc.). Será que estamos a “virtualizar” a nossa existência? A propagandear as nossas vitórias, sejam elas fantasiosas ou não? A alardear uma vida que apenas existe no nosso imaginário? Que espécie de necessidade nos impulsiona a fazê-lo? “O insucesso é apenas uma oport

Hoje sinto-me... Lilás!

- Como está? – Os olhos dela devassavam-me a alma. Ela sabia como eu estava. Eu é que não conseguia descrevê-lo. Enquanto os olhos se me alagavam, virei a cabeça num gesto inútil para que ela não me visse a tristeza. O que se diz num momento assim? Que se morreu por dentro, que nada em nós pretende prosseguir com absolutamente nada, que nos movemos roboticamente e por ação puramente mecânica, mas que a vida, pelo menos aquilo a que verdadeiramente chamamos de ‘vida’, já não existe, afundou-se, mergulhou nas profundezas escuras de um desgosto descomunal? Não, não se pode dizer isto a ninguém… Muito menos a uma psiquiatra desconhecida. Por isso permaneci em silêncio. - O que pretende fazer? – A pergunta abalou-me como se tivesse levado um choque. Virei a cabeça para ela, a surpresa estampada em toda eu. Mas afinal eu ainda podia fazer alguma coisa? A sério? Fiquei a olhá-la, boquiaberta, tentando que o meu cérebro entendesse aquela mensagem… Estaria ela a tentar devolver-me o contr

Hoje sinto-me... Vermelha!

- Ah ah ah ah ah ah ah! Ontem estavas aí, esparramada na minha parede, a rir-te de mim! E hoje tirei-te, apaguei-te, arranquei-te desse lugar de destaque que nem sequer merecias e onde eu nunca te deveria ter colocado! Agora serás relegada para o lugar que verdadeiramente mereces: o lixo! Um brinde à tua nova posição! Viva! – E ergueu o copo bem alto antes de o levar aos lábios para mais um prolongado gole. Preocupada, Madalena entrou no pequeno atelier onde Manuel, obviamente embriagado, prosseguia afanosamente a sua dissertação para a parede branca e vazia. - Manuel, vá, já chega. Pintaste a parede, ela já não está aí, pronto. Acalma-te lá e descansa um bocadinho. - Descansar? Tu achas mesmo que eu consigo descansar depois disto tudo? A sério? Claro que não consigo descansar. – E Manuel literalmente escorregou para o chão, na mão segurando firmemente o copo quase vazio. – À tua, Madalena! Brinda comigo! - Está bem, mas só porque tu mereces. – Madalena foi buscar um co

Hoje sinto-me... Azul!

Maria abanou a cabeça, sacudindo a farta cabeleira de negros caracóis. Duas grossas lágrimas deslizaram suavemente pelo seu sereno rosto e logo os claros olhos castanhos se inundaram de novo, brotando profusa e continuamente numa cadência perfeita: 5 segundos, 2 lágrimas, 5 segundos, 2 lágrimas, 5 segundos, 2 lágrimas… Contemplava impotente a retroescavadora que implacavelmente lhe destruía a casa que fora sua nos últimos 40 anos. Ali casara, ali fora muito feliz, ali tivera os seus 3 filhos, provavelmente à custa de toda a água que sofregamente bebera da Fonte Santa, a fonte de águas milagrosas que, segundo afiançavam os locais, garantia gravidez na certa… E agora aquilo, toda aquela destruição, já fora a igreja, agora as casas, os monumentos, tudo arrasado… Até o cemitério fora revolvido, violado, devassado, os corpos e ossadas trasladados. Nada iria escapar, nada exceto pequenas “lembranças”, como as pedras da Fonte Santa, destinadas a abrilhantar o museu que iria nascer n

Hoje sinto-me... Castanha

Olá avô, Faz hoje um ano que partiste e eu queria contar-te como estamos por aqui. A avó continua muito triste, diz que te vê por todo o lado, chora muito e agora, que estivemos no Algarve, ela diz que não quer lá voltar, que era um sítio que tu adoravas e que te sente em todo o lado. Estou preocupado com ela, fala sozinha mas eu sei que está é a falar contigo. A avó Lúcia diz que ela está deprimida. O pai está mais ou menos, fala pouco, enerva-se muito, fuma e bebe demais, o Xande e eu ficamos preocupados com isso, sobretudo quando ele começa a dizer mal da vida e que é tudo uma estupidez. Acho que ele sente muito a tua falta, avô. Agora arranjou uma cadelinha para lhe fazer companhia, chama-se Guga, é uma caniche, sabes como são os caniches, são aqueles que têm muitos caracóis e são pequeninos e levezinhos, com olhinhos muito redondos e vivos. A princípio não gostei muito dela, sabes que eu gosto mesmo é de gatos, de cães sempre tive muito medo, por isso não lhe ligava n

Hoje sinto-me... Branca

Mateus, Meu amigo, ontem fui ajudar-te a limpar a casa e acabei foi por deixar um rasto de destruição à minha passagem. Ao entrar em tua casa, o Sebastião veio alegremente lamber-me as mãos. (Nunca te contei esta parte, mas eu besunto sempre as mãos com um pouco de mel para obter este tratamento especial. É o nosso segredo… Eu sinto-me importante por ele não fazer isso a mais ninguém e assim ele nunca me rosna…) A minha amizade com o Sebastião é interesseira e até um pouco doentia, mas um pit bull é um pit bull e tu sabes bem como eu tenho medo de cães. Mas o pior é o Jeremias, que tem uns ciúmes doentios do Sebastião, e faz-me esperas atrás da porta, atirando-se às minhas pernas com as duas patas no ar só para me mostrar quem é que realmente manda ali. Só que desta vez eu desequilibrei-me e, ao tentar agarrar-me a alguma coisa com as mãos pegajosas, levei as mãos ao jarrão Ming e… Entretanto o Sebastião, excitadíssimo, corria de um lado para o outro, arfando ruidosamente e