Hoje sinto-me... Lilás!
- Como está? – Os olhos dela devassavam-me a alma. Ela sabia como eu estava. Eu é que não conseguia descrevê-lo. Enquanto os olhos se me alagavam, virei a cabeça num gesto inútil para que ela não me visse a tristeza. O que se diz num momento assim? Que se morreu por dentro, que nada em nós pretende prosseguir com absolutamente nada, que nos movemos roboticamente e por ação puramente mecânica, mas que a vida, pelo menos aquilo a que verdadeiramente chamamos de ‘vida’, já não existe, afundou-se, mergulhou nas profundezas escuras de um desgosto descomunal? Não, não se pode dizer isto a ninguém… Muito menos a uma psiquiatra desconhecida. Por isso permaneci em silêncio. - O que pretende fazer? – A pergunta abalou-me como se tivesse levado um choque. Virei a cabeça para ela, a surpresa estampada em toda eu. Mas afinal eu ainda podia fazer alguma coisa? A sério? Fiquei a olhá-la, boquiaberta, tentando que o meu cérebro entendesse aquela mensagem… Estaria ela a tentar devolver-me o contr